quarta-feira, 20 de julho de 2011
Lolita
O som da flauta era leve como a espuma. Mas... triste.
A menina não sorria em público. Se o fazia sozinha, ninguém sabe. Por mais que transmitisse um som melodioso, exibisse uma beleza invejável com roupas simples e tivesse amplo conhecimento, nada a fazia sorrir. Permanecia séria ou tristonha entre amigos, familiares e estranhos, indiferente à diversão que por ventura surgisse. Quase sempre acompanhada por seu gatinho preto, Klimt, falava pouco mesmo conhecendo uma infinidade de pessoas.
Certo dia, um curioso amigo dela foi questionar à governanta da mesma sobre o singular comportamento da menina. Ela demorou a responder como quem não tivesse certeza de que deveria falar, a expressão preocupada olhando para o chão pensativamente. Quando o garoto ia desistir do assunto, ela o encarou e começou a contar:
- Califórnia era uma menina doce desde pequena. Sei disso por estar presente na época. Gostava da mãe, de brincar e passear no jardim de nossa mansão. Sempre risonha, alegre, exalando uma áurea brilhante, porém não gostava de praticar flauta. Preferia fazer outras coisas e tocar somente nas aulas semanais. A mãe, no entanto, insistia no contrário e vez ou outra o fazia.
"Quando Califórnia tinha 9 anos, a mãe adoeceu gravemente. Faltando pouco para morrer, ela pediu à filha que lhe tocasse uma última música - gostava de ouví-la tocar, sabe? A menina quis prepará-lhe uma especial às pressas, mas como não sabia as lições bem, demorou. Tragicamente minha senhora morreu pouco antes do projeto terminar.
"Sua amiga toca muito bem agora, praticando sempre e com o coração. A perda da mãe e a culpa que ainda sente, 4 anos depois, pode ser notada a cada minuto, com ou sem a flauta transversal com que o pai a presenteou."
O jovem permaneceu atônito enquanto mirava, pasmado com a história, o rosto triste da governanta. Não esperava... que fosse algo assim. Ele abaixou a cabeça e saiu mudo. A governanta parecia secar lágrimas com um lenço de seda branco.
- Prometo tentar fazer ela sorrir outra vez. - sussurrou para si mesmo, logo pensando em como era egoísta.
O curioso foi que, em anos, ele foi um dos únicos a querer saber a causa de um comportamento, não se limitando a criticar ou estranhar. E a menina em uma sala daquele mesmo corredor, sem ele saber, sorriu lindamente às suas costas como quem dissesse "Obrigada". A partir daí, algo novo e leve parecia acrescentado às suas músicas. Algo bom.
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